quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A arca

Um homem leva a mão direita ao teclado; depois de um tempo, um homem,
o mesmo homem, leva a mão esquerda. Pouco, digita. Começa a compor um texto.
Tem certeza de que nada sairá de significativo de suas mãos.
Entretanto… ele está convicto de
que deve porque deve escrever uma série de coisas, que
um dia terá, que essas
coisas terão valor.
Ele irá imprimir o resultado.
Rabiscará com caneta esferográfica (na cor) vermelha, ajustando
palavras a fim de adequar o sentido, os sentidos. Amanhã, após
o café, mexerá de novo. Deixará rabiscado.
Madrugando.
Dois anos se passarão, o papel impresso e seus rabiscos numa gaveta.
Entre jogar na lixeirinha e, talvez,
acomodar na arca… O texto será lido para
sua filha de quinze anos. Papai, legal.

***